Ela caminhava devagar, enquanto
entrava naquele bar. Aquele mesmo bar, com aquelas mesmas pessoas. Mas nunca
tinha percebi o quanto aquele bar tinha se tornado frio. Ela senta na mesma
mesa de sempre, no cantinho, perto do grande espelho, e como se fosse uma ação súbita a sua pele se arrepia. O corpo estremece,
o coração grita. Menina boba, ainda se sente assim. Que menina boba, se
importante tanto com quem não tá nem ai. Parecia que só ouvia aquelas risadas
familiares ecoando. Doía tanto, que ela fechou o olho por um segundo.

“Egoísmo” ela disse, afagando a
mão do garçom, que já a conhecia há algum tempo. “Puro egoísmo.” – Como se ela
tivesse lido os pensamentos dele.

“O egoísmo estraga tudo, sabe?
Quando foi que chegamos ao ponto de simplesmente não ligar para os sentimentos
dos outros, e passar chegar a passar por cima deles? Ou então morder e rasgar, como se fossem
um copo descartável que você não quer nem colocar bebida de novo – só quer se
livrar daquele incomodo. Mas não deveria
ser assim. Deveria ser como se você visse que o seu melhor amigo chorando e
tudo o que você consegue pensar é em como fazer ele sorrir de novo.” – ela para
e dá um sorriso para si mesma.
“Meio bobo né? Quem sã
consciência iria querer sacrificar a própria felicidade, ou gastar tempo, por
outra pessoa? Chego a me sentir idiota às vezes de acreditar que fariam por mim
o que faço por outros. Menos sobre os meus amigos. Os que escolhi, a minha rotina... eles eu nem preciso falar. Sei que
sacrificariam. Só sei. Mas falo daquela pessoa.” – Os olhos do garçom entraram em encontro
com os olhos dela. “Ah sim” – ela suspirou e voltou a rir para si mesma,
fechando os olhos e balançando a cabeça. “Você sabe do que estou falando... Já
passou por isso né?” Ele assente, pedido pelo final do pensamento com o olhar.
“Aquela pessoa que você acha que
conhece. Que consegue confundir seu dia todo, só por mandar uma mensagem de bom dia e depois
não responder mais o resto do dia. Aquela pessoa que você julgava ser uma coisa, mas... Mamãe
sempre ensinou a não julgar um livro pela capa né? Sabe... Aquela pessoa que
você acha: finalmente é agora. Aquela esperança renovada, aquele tremer de
nervosismo bom que acalma quando sem querer vocês se tocam pela primeira vez.
Aquele encontro de olhares, que você não consegue disfarçar o sorriso e se acha
boba, por estar parecendo uma menininha apaixonada.” O garçom encarava ela,
preparado para pegar o lenço e afagar a menina.
“Não tem necessidade não. Eu
aprendi, um pouco tarde, a não chorar por quem eu achava que me merecia. Mas eu
queria só entender. Se fui eu ou se foi ele. Se foi a situação. O que aconteceu?
A mesma pergunta que você fez para si mesmo, quando me viu não sendo... eu mesma. Eu julgo que seja
egoísmo, mas na verdade milhões de coisas conturbam minha mente. Pode ter sigo
algo que eu fiz, algo que eu disse. Mas eu sei que quando nos beijamos e a
respiração tava quase sincronizada, eu não precisava entender. Só precisava sentir.
E me permitir.” – O garçom olhou para ela agora, como se os dois tivessem
achado a resposta.
“Sim. Se permitir. Se permitir
destruir todas as paredes, todas as barreiras. Permitir se abrir a qualquer
tipo de felicidade. Se permitir o beijo, o toque, sem precisar entender o que
estava acontecendo. Só aproveitar. Se permitir mandar aquela mensagem de manhã,
porque sabe que eu estaria esperando. Talvez me fizesse de difícil... Talvez
respondesse com uns cronometrados 17 minutos de atrasos e uma resposta meio boba, que não ia dar brecha para conversa e eu ia me arrepender depois.
Mas pelo menos eu tinha me permitido a chance de arriscar por algo que julguei
valer a pena." – Ele continuava a olhar para ela, um pouco mais alerto agora aos olhares do chefe. Mas ela era como aquele final de livro bom, não conseguia parar de acompanhar.
"Se permitir um coração bobo e frágil." – Uma pausa longa, e um doce sorriso, como se ela tivesse se convencido de alguma coisa. "Não ter medo de tentar. Não
ter medo de errar. E se der errado: pelo menos a lição tinha sido aprendida, e
o coração poderia seguir em frente. Se permitir e não se provir. Porque
enquanto você tá se provindo de algo realmente bom, é ai que você devia estar
se permitindo. O passado está lá, por um motivo. O destino encarrega de só te
apresentar mudanças. Sejam elas boas ou ruins, você entende?” – Ele levantou,
meio embaralhado pelas informações e olhares feio do chefe. “Então, ela não estava triste?” Ele franzia
a testa, levando a xícara de café suja ao balcão. Virou-se, meio revoltado e quando
olhou, ela não estava mais lá. Tinha algumas notas e um bilhete:
“Não. Eu não estou triste. O
destino não colocou algo no meu caminho para que eu ficasse triste. Eu fui
livre. De negatividade, de egoísmo e de alma. Um dia quem sabe, aquela pessoa
se permita. Posso falar que não, mas de algum jeito, sempre vou estar aqui. Mas
quem sabe um dia não vou encontrar outro louco por ai, com o coração bobo e
leve, que cansou de se provir das coisas boas, e decidiu de permitir comigo?
Mal posso esperar.” – Ele deu aquele sorriso para si mesmo, do jeitinho que ela
fazia, e terminou de ler: “Aposto que te fiz sorrir, né? Se libera, se permite
também. Não tem coisa mais bonita que um coração leve, uma alma limpa e aquele
sorriso... Aquele sorriso dono de si mesmo, aquele que não precisa de nada para
se preencher. Eventualmente, tudo volta ao normal. Basta se permitir.”
Aquele bilhete virou uma cópia. E
aquele garçom, que nunca mais viu aquela menina que era rotinha de quase todo domingo, entregava para cada pessoa que vestia aquele mesmo olhar triste e meio
sorriso daquela noite. Talvez ela tivesse achado o caminho que permitia todas
as coisas que ela buscava. Ela o mostrou isso, e ele continuava a espalhar a
mensagem.
Porque ele não podia provir que a felicidade de espalhasse. Ele tinha
que permitir. E assim, o fez.

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