Hoje na aula de Ballet, Dona Tereza fez a coisa mais maluca
de todas: Ela falou que tínhamos que interpretar o Hino Nacional. Isabelle
perguntou se ela queria escrita ou na fala. Dona Tereza torceu o nariz e
perguntou de volta, “você é brasileira?”, ela me olhou em pânico como se eu
soubesse a resposta. “É uma interpretação do que você é. Você é brasileira. A
dança é o que você é, uma extensão do seu corpo, do seu pensando. A música
traduz o que você pensa, a dança mostra o que você sente. Dança, brasileira.”
Voltei para casa pensativa. Com tanta dança legal... Tinha logo que ser o Hino
Nacional?
Às vezes fico sentada perto da barra de metal pensando em
como isso tudo surgiu. Penso como um homem deve ter pegado um bastão e sem querer
bateu em uma pedra. E bateu de novo. E de novo. Mais uma vez. Até que formasse
um som que acalmasse. Ou um som que excitasse. Que o fizesse sentir qualquer
coisa, que o fizesse chamar atenção.
Ai depois, me vem uma imagem de uma igreja e uma pessoa vagamente
balançando de um lado para o outro, escutando a letra e a melodia. Deixando
tomar contar. Uma relação meio de posse, de entrega.